O PESADELO DA CONSCIÊNCIA
Aquando da Guerra Colonial, o palco do teatro de guerra estava praticamente restrito a Angola, Moçambique e Guiné. Para ali convergiram as armas e bagagens da juventude portuguesa, para ali convergiram todos os dinheiros públicos e não só dum pequeno País europeu.
O curioso é que o meio rural deste nosso Portugal municiou toda a carne para canhão. Os senhores do outro regime continuavam a procurar que a luta fosse em prol de um Portugal uno e indivisível.
A consciência de alguns militares de carreira, feridos nas suas susceptibilidades de acesso, vendo-se ultrapassados por milicianos, dada a falta de mão-de-obra capaz, procurou uma saída airosa, estando tal comportamento por trás do movimento dos capitães de Abril. Durante 13 anos passaram milhares de soldados pela guerra nos mais variados cenários. E custa-me ver que ainda somos apelidados, conotados, com o anterior regime, quando não tínhamos condições de fugir ao cumprimento de um dever patriótico. Errado ou não, era o dever que se sobrepunha a todas as situações.
Os mais audaciosos, principalmente das classes rurais, fugiam à guerra, não porque estivessem politizados, mas com o medo estampado no rosto, iam a salto para França, Luxemburgo e mais tarde para a Suíça e Alemanha.
Os meninos-bem, quase de sangue azul, desertavam, com muito mais medo que os pobres do interior deste nosso Portugal. São esses que mais tarde voltaram arvorados em heróis antifascistas e que foram ocupar as cadeiras do poder, nas mais variadas situações.
Outros ainda, filhos de colaboradores directos do antigo regime, apressaram-se a inscrever-se nos partidos recém criados, para assegurarem o seu futuro. Conheço tantos.
Finalmente, aqueles que por falta de meios financeiros para uma fuga para os países da Europa, ou do Norte de África, combateram e deram o corpo em nome do País que os viu nascer.
Fiquei passado quando li há dias num jornal diário que um determinado sargento após 4 meses no Afeganistão vai ter de se adaptar à família, sem o receio em cada esquina. E nós, ao fim de 24 e mais meses, quando regressávamos o que encontrávamos?
O stress de guerra do tempo colonial, não tem comparação com o stress das actuais missões.
Cada vez mais, sinto que no presente, ser ainda um antigo combatente é um peso para os governantes, pois não somos considerados nem ex-combatentes, nem sofredores de síndromes de guerra. Enfim, não somos nada.
Acabei de ver que o Senhor Presidente da Republica vai receber os últimos soldados a chegar da Bósnia. E a nós, quem nos esperava? Só se lembram de nós (antigos combatentes da guerra colonial) quando é para pedir votos para os tachos daqueles que traíram, fugiram, desertaram e voltaram para ocupar o lugar dos pais e avós com outras designações políticas.
Este meu desabafo, foi feito no dia em que um antigo paraquedista, com o apoio, creio eu, da Liga dos Combatentes, foi a Guilage (Guiné) resgatar o corpo de 3 camaradas que ali ficaram e que o nosso Exército, e os sucessivos governos não tiveram a coragem de resgatar. (Foto de Manuel Almeida/Lusa)
Etiquetas: Desabafos
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