O DIA A DIA EM ENCHEIA
O 3º Grupo de Combate passou a ocupar o pequeno aquartelamento de Encheia a partir de 5 de Junho de 1967; O primeiro dia foi passado a contabilizar os prejuízos da viagem.
Como o Grupo de Combate era composto por três secções, praticamente as emboscadas eram processadas a uma secção ou a duas, pois tinha que ficar alguém no Aquartelamento.
O Aquartelamento era composto por um quadrado de cerca de 100 metros por 100, com duas entradas: uma do lado do Rio Mansoa, que distava cerca de 1000 metros, e outra na mesma direcção, no sentido da rua principal e única de Encheia, onde existiam meia dúzia de casas de adobe, das quais três eram comerciais, e que servia também de pista de aviação.
Dentro do arame farpado existia a casa do chefe de Posto, modelo idêntico em quase toda a Guiné, uma antiga casa que serviu de Posto Médico, e que era usada pelos quadros (Alferes
Jesus, Sargento Vieira, Furrieis Rogério, Nóbrega e Neto.
As entradas eram fechadas com cavalos de frisa.
Do lado do rio existia um armazém de cereais, desactivado e que era ocupado por alguns soldados. Do lado de Encheia existia uma caserna de adobes, que num dos lados dispunha de
enfermaria e de uma pequena arrecadação de géneros.
Junto ao edificio dos quadros, havia um pequeno abrigo de bidons e areia, onde se situava o sistema de transmissões.
Do lado de trás da casa dos quadros, existia um pequeno abrigo para a fossa do morteiro (secção do Neto); por trás da casa do chefe de Posto, situavam-se antigas instalações de galinhas porcos e outros animais, que estavam a ser utilizadas pelos soldados.
O arame farpado que cercava o aquartelamento passava muitio perto destas instalações.
Junto ao cavalo de frisa do lado de Encheia, existia um pequeno abrigo semi enterrado coberto por cibos e areia, (que segundo os Leões Negros, em 1970, desabou corcumido pelas formigas baga baga).
Do lado oeste existiam palhotas, onde habitavam alguns nativos que colaboravam com a tropa
bem como as familias dos cipaios.
Não existia luz eléctrica a qual só foi inaugurada em 10 de Junho. O gerador ficou instalado em
abrigo junto à porta de entrada do lado de Encheia.
As três casas comerciais pertenciam uma ao velho libanês Naim, outra a um nativo, de que não me lembro o nome, outra ao Fontaínhas (creio que da Casa Gouveia) que ardeu (fogo posto) na noite de 18 de Agosto daquele ano de 1967; recordo-me que precavendo qualquer tentativa de ataque, optámos por fazer uma psico (?) que fosse ao encontro dos desejos e necessidades da população; Assim, o Grupo de Combate que rendemos deixou uma pequena arrecadação com os medicamentos a granel sem qualquer ordem.
Eu, juntamente com o enfermeiro, optámos por montar os medicamentos que lá se encontravam mais os que levámos, numa espécie de farmácia ou posto de pronto socorros.
Fizémos constar que atenderiamos os elementos nativos que necessitassem de ajuda e assim nasceu um apoio tipo consulta. Diariamente atendiamos cerca de uma dezena de necessitados.
A uns, eram feridas resultantes de quedas ou de cortes, outros, eram dores abdominais, etc etc. Sem sermos médicos procurávamos deixar boa impressão aqueles que se nos dirigiam.
Foi assim que uma parturiente teve de ser evacuada a nosso pedido, por helicóptero tendo
tido um filho já no hospital em Bissau. Passados alguns dias, regressou com o filho nos braços juntamente com os fuzileiros. Perguntando-lhe como se chamava o minino, disse que se chamava Helicóptero.
Doutra vez, andava eu, aflito com uma infecção num dente, com a cara inchada e como não encontrasse melhor medicamento, pedi ao enfermeiro que me desse uma injecção de um determinado medicamento; ao que ele me respondeu, que nunca tinha dado uma injecção.
Nesse dia, todos os nativos que recorreram ao posto médico levaram injecção dadas pelo enfermeiro e à noite ele deu-me a desejada injecção que me curou o abcesso
Como procurámos não incomodar, normalmente uma das secções, se dirigia ou à Fonte recolher água ou ia à lenha para nosso uso (cozedura do pão e para a cozinha); de vez em quando montávamos uma emboscada, ou iamos adquirir à força gado para nossa alimentação (vacas, galinhas, porcos).
Cumpriamos o ciclo de emboscadas que nos mandavam efectuar em apoio a operações desencadeadas pelas Companhias de Binar Biambi e também esporadicamente de Bissorã.
Como não tivessemos um esquema montado de controlo das sentinelas, tinhamos sempre diariamente uns petiscos (normalmente rolas fritas, omeletes ou outros petiscos) que comiamos por volta da meia noite, Antes das duas da manhã, normalmente passávamos uma ronda, e por essa hora deitavamo-nos.
Certo dia, (na madrugada de 26 de Julho de 1967) bateram-nos à porta da casa que habitávamos; ensonado, esfregando os olhos, de cuecas, abro a porta e qual não é o meu espanto, deparo com um grupo infindável de militares armados, que eu mal conheci, e só quando o nosso Capitão pediu para falar com o Alferes eu prontamente fui ao quarto do Alferes Jesus, chamando-o, dizendo-lhe que o Capitão estava lá fora.
Acontece que a Companhia entrou por ali dentro e não vislumbrou qualquer sentinela. O Capitão passou um raspanete ao Alferes que só visto.
A partir daquela data, peguei nas minhas coisas e fui para o abrigo da minha secção, junto ao gerador da electricidade.
Muitas outras estórias há para contar de Encheia. Ficará lá mais para a frente.
Etiquetas: Quotidiano
1 Comentários:
Parece que este pelotão estava de férias na Guiné. Certamente não estava, mas a preparação de soldados para o Ultramar, para as colónias, não contava com experiência no terreno. o escriba
10:23 da tarde
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