História da Companhia de Artilharia 1688 na Guiné Bissau entre 1967 e 1969

quinta-feira, março 01, 2007

RECORDAÇÕES DE ENCHEIA


A nossa permanência em Encheia, pode considerar-se um risco muito elevado, um período de acalmia que estou em crer ter ficado a dever-se à psico que levámos a cabo durante a nossa esta-dia.
O nosso principal papel, seria o de proporcionarmos alguma protecção às populações vizinhas, tentarmos fazer com que as populações nativas procurassem o nosso abrigo, a nossa protecção em desfavor das forças do PAIGC que por ali se abasteciam de gado, arroz e recrutavam homens e mulheres para as suas hostes.
Inicialmente, com os nossos cuidados, a assistência médica começou a proporcionar uma aproximação de nativos das tabancas vizinhas, que ao mercado de Encheia, começaram a procurar vender alguns produtos (mancarra, verduras, enfeites, etc).
O Chefe de Posto, nativo dos Bijagós, não nos oferecia muita confiança e estavamos sempre de pé atrás com ele.
Os cipaios, viviam com suas familias, dentro do arame farpado.
O velho Naim, ao fim do dia, recolhia à Casa do Chefe de Posto e ali jantava e pernoitava.
Como o seguro morreu de velho, não arriscava em ficar nas suas instalações comerciais que até eram razoaveis.
O Danif, que geria a casa Fontainhas, porque havia rebentado a Guerra dos Seis Dias, no Oriente, como bom palestiniano que se julgava ser, abandonou tudo para partir em defesa do seu País. O seu substituto, um branco de que não me lembro o nome, apareceu lá acompanhado de uma caboverdiana. Passados dias, ardeu a casa comercial, tendo o fogo começado na gaveta do dinheiro. Como seria lógico, elementos da Policia vieram e levaram-no preso para Bissau. Nunca mais soubemos nada.
A nossa psico era bem esclarecedora.
Certa vez, havendo falta de arroz para a população, convencemos o velho Naim a ir a Bissau adquirir uma grande quantidade para ser vendida aos nativos. Fizémos constar que tinha sido a tropa, que tinha arranjado e obrigado o velho Naim a ir comprar o arroz a Bissau.
Aproveitámos e o Naim fretou uma avionete e devuidamente desenfiados eu e o furriel Neto fomos a Bissau passar um fim de semana. O Alferes Jesus só nos disse que se houvesse algum problema nós tinhamos ido sem autorização. Mas naquela época metade dos civis que circulavam de dia e de noite em Bissau, eram militares desenfiados ou prestes a embarcar de férias para a Metrópole.
Felizmente tudo correu bem.
Quando o barco aportou, passados dias em Encheia com umas toneladas de arroz, eu e o Alferes Jesus fomos ajudar o Naim e o empregado a vender arroz ao balcão do seu estabelecimento.
Isto é que era uma verdadeira psico.
Quanto à segurança, como o aquartelamento não oferecia condições procurávamos estar acordados até o mais tarde possível para podermos responder a qualquer tentativa de ataque.
Os Fuzileiros que percorriam o Rio Mansoa, não paravam nem permaneciam em Encheia.
Procurámos averiguar o porquê, e descobrimos que eles tinham um conflito com o pelotão que
fomos render. Então, a troco de pão fresco, e algumas cervejas, passaram a pernoitar na LDM
ancorado no Rio, tendo o nosso Grupo de Combate, obtido naqueles dias, uma arma pesada, apontada ao Sul.
A nossa alimentação era igual para todos os elementos (quer soldados , quer graduados) e era
gerida contabilisticamente pelo Sargento Vieira.
Certo dia, o sargento teve de ir uns dias para Bula a frequentar um curso qualquer, fiquei eu
como furriel mais antigo a tomar conta da alimetação. Dispunhamos de algumas vacas, 2 ou 3 porcos, algumas galinhas. Perguntei ao Alferes, como era. Se era para comermos rancho melhorado ou continuarmos com massa com feijão. O certo é que ainda a LDM estava a arrancar e já um vitelo estava a ser preparado. Ainda hoje os ex soldados garantem que foram os melhores dias de alimentação que tiveram. O pior foi quando o sargento chegou ,fez as contas e garantiu que já não havia verba para o próximo mês. O certo é que ninguem passou fome e ele sargento lá teve de fazer contas bem feitas.
Durante a nossa permanência, procediamos a pequenas emboscadas, alertas noturnos e pouco mais ,pois era um pelotão destacado num aquartelamento com pouca segurança.
O pior foi quando as altas patentes fizeram deslocar uma companhia para Encheia, preparando a substituição do nosso Grupo de Combate.
Encontrava-me de férias, e na Metrópole tive conhecimento do ataque ao aquartelamento tendo morrido um soldado da Companhia que nos ia render.
Quando, após as férias, regressei à Guiné, em Bula, recebi ordens para ir buscar o Grupo de Combate a Encheia, para nos juntarmos à Companhia Mãe no Biambi.
E assim aconteceu.
Regressámos com armas e bagagens em LDM dos fuzileiros de Encheia a João Landim.Em coluna auto de João Landim a Bula. Em Bula permanecemos meis duzia de dias até seguirmos em coluna por Binar até Biambi, onde permanecemos até ao final da nossa comissão.
Em Encheia ficou a secção do Furriel Neto, porque este estava com um ferido aquando do ataque pois o base do morteiro saltou e caiu-lhe no pé.
O Capitão da Companhia que nos rendeu queria que ficasse a secção do Nóbrega, mas como o
Nóbrega era bastante voluntarioso, um poço de energia, optei por deixar a secção do Neto, após
termos conversado os três sobre o assunto. O Alferes estava de férias motivo porque era eu que tinha de assumir o comando. O Sargento Vieira já lá não estava.

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