História da Companhia de Artilharia 1688 na Guiné Bissau entre 1967 e 1969

segunda-feira, maio 26, 2008

MAIS UMA OPERAÇÃO DE FACA E GARFO

Teve lugar no passado dia 17 do corrente mês de Maio, em Coimbra, o VIGÉSIMO CONVÍVIO da CART 1688, numa organização do incansável CORINO.
A concentração iniciou-se pelas 10h junto do Convento da Rainha Santa, em Santa Clara, junto ao Quartel, agora transformado em Museu. Houve lugar a uma Missa de sufrágio pelos que já partiram e o convívio (almoço) decorreu no Restaurante O Observatório.
Pelo contactos já mantidos com alguns dos convivas tudo decorreu dentro da normalidade, havendo a registar novas adesões de elementos que andaram afastados pelos seus afazeres profissionais ou que estiveram afastados do País.
É de lamentar, pois se grandes razões tinham para se afastarem do convívio dos elementos da Família da CART, com os quais conviveram durante mais de dois anos em condições difíceis, QUARENTA ANOS depois o tempo se encarregou de passar uma esponja sobre tudo quanto de lamentável tivessem sentido, e muito menos, sabendo-se que esses elementos exerceram a sua profissão, residem e fazem o seu dia a dia em Coimbra. Já não lhes pedia que se deslocassem a locais mais afastados, mas julgo que todos gostariam de partir mancanha com os ex-alferes Baptista e ex-furriel Pacheco.
25/05/2007

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terça-feira, abril 17, 2007


O PESADELO DA CONSCIÊNCIA

Aquando da Guerra Colonial, o palco do teatro de guerra estava praticamente restrito a Angola, Moçambique e Guiné. Para ali convergiram as armas e bagagens da juventude portuguesa, para ali convergiram todos os dinheiros públicos e não só dum pequeno País europeu.

O curioso é que o meio rural deste nosso Portugal municiou toda a carne para canhão. Os senhores do outro regime continuavam a procurar que a luta fosse em prol de um Portugal uno e indivisível.

A consciência de alguns militares de carreira, feridos nas suas susceptibilidades de acesso, vendo-se ultrapassados por milicianos, dada a falta de mão-de-obra capaz, procurou uma saída airosa, estando tal comportamento por trás do movimento dos capitães de Abril. Durante 13 anos passaram milhares de soldados pela guerra nos mais variados cenários. E custa-me ver que ainda somos apelidados, conotados, com o anterior regime, quando não tínhamos condições de fugir ao cumprimento de um dever patriótico. Errado ou não, era o dever que se sobrepunha a todas as situações.

Os mais audaciosos, principalmente das classes rurais, fugiam à guerra, não porque estivessem politizados, mas com o medo estampado no rosto, iam a salto para França, Luxemburgo e mais tarde para a Suíça e Alemanha.

Os meninos-bem, quase de sangue azul, desertavam, com muito mais medo que os pobres do interior deste nosso Portugal. São esses que mais tarde voltaram arvorados em heróis antifascistas e que foram ocupar as cadeiras do poder, nas mais variadas situações.

Outros ainda, filhos de colaboradores directos do antigo regime, apressaram-se a inscrever-se nos partidos recém criados, para assegurarem o seu futuro. Conheço tantos.
Finalmente, aqueles que por falta de meios financeiros para uma fuga para os países da Europa, ou do Norte de África, combateram e deram o corpo em nome do País que os viu nascer. Como eu, tenho a certeza de que muitos milhares de portugueses ainda têm muito orgulho em terem combatido em nome de Portugal, e disso não nos poderemos envergonhar.

Mas, todo este meu reparo é para tentar compreender a posição actual, em comparação com o cumprimento de missões de Paz, de meia dúzia de meses, com contactos diários com os familiares, psicólogos, internet, etc., etc.

Fiquei passado quando li há dias num jornal diário que um determinado sargento após 4 meses no Afeganistão vai ter de se adaptar à família, sem o receio em cada esquina. E nós, ao fim de 24 e mais meses, quando regressávamos o que encontrávamos?

O stress de guerra do tempo colonial, não tem comparação com o stress das actuais missões.
Cada vez mais, sinto que no presente, ser ainda um antigo combatente é um peso para os governantes, pois não somos considerados nem ex-combatentes, nem sofredores de síndromes de guerra. Enfim, não somos nada.

Acabei de ver que o Senhor Presidente da Republica vai receber os últimos soldados a chegar da Bósnia. E a nós, quem nos esperava? Só se lembram de nós (antigos combatentes da guerra colonial) quando é para pedir votos para os tachos daqueles que traíram, fugiram, desertaram e voltaram para ocupar o lugar dos pais e avós com outras designações políticas.

Este meu desabafo, foi feito no dia em que um antigo paraquedista, com o apoio, creio eu, da Liga dos Combatentes, foi a Guilage (Guiné) resgatar o corpo de 3 camaradas que ali ficaram e que o nosso Exército, e os sucessivos governos não tiveram a coragem de resgatar. (Foto de Manuel Almeida/Lusa)

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sexta-feira, março 30, 2007

A COMPANHIA NO BIAMBI

PERÍODO DE 7 DE JUNHO DE 1967 A 4 DE DEZEMBRO DE 1967

Como missão principal da CART 1688, após a sua colocação em quadrícula no sector de Biambi, seria a de assegurar a ocupação territorial e o controlo do seu sector; manter o controlo dos itenerários de Binar - Encheia e Bissorã: e desenvolver uma intensa actividade psico social com o fim de paxar para o nosso lado as populaões das diversas tabancas principalmente as de Dará - Claque- Quitamo - Quissanque- Chalé - Inquida - Camã - Infaide - Clonque - Insanhe - Impasse- Encheia - Enchanque - Blafechuro e Ungro.
Durante este período, a CART 1688, teve um Grupo de Combate - o 3º - destacado em Encheia e contou com a colaboração e permanência do referido Pelotão de Nativos 55.
Durante este período efectuaram diversas acções das quais destacamos:
Início da construção da pista de aterragem para DO 27.
Destaque para as seguintes operações militares:
BALBUCIO
BIZARMA
BIOMBO
BALAME
BISCATE
BAILADEIRA
BOA VONTADE
BOM AMIGO
BATE O PÉ
BULHENTO
BÁSICO
BOLANHA
BARRAGEM
BÁRATRO
BÁRBARA
BAZOKADA
BIRRAR
BIBLIOTECA
BITOLA
BRUSCA
BATE DURO
BORRIFO
BRASIDO
BORBOTÃO
BALOTE
BIGODE
BATISCAFO
BIFANA
BALISTICA
BIQUINI
BASILAR
BICICLETE
BICHO MAU
BACAMARTE
BARROTE
BOCARRA
BRILHANTE

Durante este período, destaque para as operações - Bate o Pé - Báratro - Bárbara - Bitola - Bolanha - Bigode - Balistica - Biquine , não só pelo material apreendido, mas também pelas capturas efectuadas ou pelos baixas infligidas-
Destaque ainda para as seguintes actividades para além das operações atrás mencionadas:
191 Patrulhamentos
192 Emboscadas
6 Batidas
3 Golpes de Mão
Durante este período, a Companhia sofreu 9 flagelações e 8 ataques ao aquartelamento.

domingo, março 25, 2007

PELOTÃO DE CAÇADORES NATIVOS 55
PANTERAS NEGRAS


Apresença do Pelotão de Caçadores Nativos 55 no Biambi, iniciou-se ainda antes da chegada àquele aquartelamento da CART 1688, e passou a fazer parte integrante da CART, para todos os efeitos, a partir daquela data.
Este Pelotão era comandado pelo Alferes Miliciano Carmona oriundo de Portalegre, e dos seus furriéis constava o Baptista, da região de Águeda, consequentemente, meu quase conterrâneo.
Não me recordo dos restantes furrieis daquele Pelotão bem como de dois ou três cabos. Só estes eram brancos. Os restantes eram nativos fundamentalmente de etnia creio que fula.
Este Pelotão de Nativos, ocupou o lugar do 3º Grupo de Combate, enquanto esteve em Encheia.
Permaneceram juntos em Biambi, de 4 de Dezembro de 1967 a 6 de Agosto de 1968.
A partir desta data, o Pelotão de Caçadores Nativos 55, saiu de Biambi, em direcção de Buba, onde esteve algum tempo, passou por Aldeia Formosa e acabou a comissão em Gadenbel.
Tenho a promessa do ex furriel Baptista de obter oportunamente mais alguns elementos sobre
a vida deste Pelotão de Caçadores, bem como de algumas fotos que oportunamente e, logo que municiado do competente equipamento, começarei a publicar.
A vida deste Pelotão saltimbanco tem muito historial para ser contado.

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quinta-feira, março 01, 2007

RECORDAÇÕES DE ENCHEIA


A nossa permanência em Encheia, pode considerar-se um risco muito elevado, um período de acalmia que estou em crer ter ficado a dever-se à psico que levámos a cabo durante a nossa esta-dia.
O nosso principal papel, seria o de proporcionarmos alguma protecção às populações vizinhas, tentarmos fazer com que as populações nativas procurassem o nosso abrigo, a nossa protecção em desfavor das forças do PAIGC que por ali se abasteciam de gado, arroz e recrutavam homens e mulheres para as suas hostes.
Inicialmente, com os nossos cuidados, a assistência médica começou a proporcionar uma aproximação de nativos das tabancas vizinhas, que ao mercado de Encheia, começaram a procurar vender alguns produtos (mancarra, verduras, enfeites, etc).
O Chefe de Posto, nativo dos Bijagós, não nos oferecia muita confiança e estavamos sempre de pé atrás com ele.
Os cipaios, viviam com suas familias, dentro do arame farpado.
O velho Naim, ao fim do dia, recolhia à Casa do Chefe de Posto e ali jantava e pernoitava.
Como o seguro morreu de velho, não arriscava em ficar nas suas instalações comerciais que até eram razoaveis.
O Danif, que geria a casa Fontainhas, porque havia rebentado a Guerra dos Seis Dias, no Oriente, como bom palestiniano que se julgava ser, abandonou tudo para partir em defesa do seu País. O seu substituto, um branco de que não me lembro o nome, apareceu lá acompanhado de uma caboverdiana. Passados dias, ardeu a casa comercial, tendo o fogo começado na gaveta do dinheiro. Como seria lógico, elementos da Policia vieram e levaram-no preso para Bissau. Nunca mais soubemos nada.
A nossa psico era bem esclarecedora.
Certa vez, havendo falta de arroz para a população, convencemos o velho Naim a ir a Bissau adquirir uma grande quantidade para ser vendida aos nativos. Fizémos constar que tinha sido a tropa, que tinha arranjado e obrigado o velho Naim a ir comprar o arroz a Bissau.
Aproveitámos e o Naim fretou uma avionete e devuidamente desenfiados eu e o furriel Neto fomos a Bissau passar um fim de semana. O Alferes Jesus só nos disse que se houvesse algum problema nós tinhamos ido sem autorização. Mas naquela época metade dos civis que circulavam de dia e de noite em Bissau, eram militares desenfiados ou prestes a embarcar de férias para a Metrópole.
Felizmente tudo correu bem.
Quando o barco aportou, passados dias em Encheia com umas toneladas de arroz, eu e o Alferes Jesus fomos ajudar o Naim e o empregado a vender arroz ao balcão do seu estabelecimento.
Isto é que era uma verdadeira psico.
Quanto à segurança, como o aquartelamento não oferecia condições procurávamos estar acordados até o mais tarde possível para podermos responder a qualquer tentativa de ataque.
Os Fuzileiros que percorriam o Rio Mansoa, não paravam nem permaneciam em Encheia.
Procurámos averiguar o porquê, e descobrimos que eles tinham um conflito com o pelotão que
fomos render. Então, a troco de pão fresco, e algumas cervejas, passaram a pernoitar na LDM
ancorado no Rio, tendo o nosso Grupo de Combate, obtido naqueles dias, uma arma pesada, apontada ao Sul.
A nossa alimentação era igual para todos os elementos (quer soldados , quer graduados) e era
gerida contabilisticamente pelo Sargento Vieira.
Certo dia, o sargento teve de ir uns dias para Bula a frequentar um curso qualquer, fiquei eu
como furriel mais antigo a tomar conta da alimetação. Dispunhamos de algumas vacas, 2 ou 3 porcos, algumas galinhas. Perguntei ao Alferes, como era. Se era para comermos rancho melhorado ou continuarmos com massa com feijão. O certo é que ainda a LDM estava a arrancar e já um vitelo estava a ser preparado. Ainda hoje os ex soldados garantem que foram os melhores dias de alimentação que tiveram. O pior foi quando o sargento chegou ,fez as contas e garantiu que já não havia verba para o próximo mês. O certo é que ninguem passou fome e ele sargento lá teve de fazer contas bem feitas.
Durante a nossa permanência, procediamos a pequenas emboscadas, alertas noturnos e pouco mais ,pois era um pelotão destacado num aquartelamento com pouca segurança.
O pior foi quando as altas patentes fizeram deslocar uma companhia para Encheia, preparando a substituição do nosso Grupo de Combate.
Encontrava-me de férias, e na Metrópole tive conhecimento do ataque ao aquartelamento tendo morrido um soldado da Companhia que nos ia render.
Quando, após as férias, regressei à Guiné, em Bula, recebi ordens para ir buscar o Grupo de Combate a Encheia, para nos juntarmos à Companhia Mãe no Biambi.
E assim aconteceu.
Regressámos com armas e bagagens em LDM dos fuzileiros de Encheia a João Landim.Em coluna auto de João Landim a Bula. Em Bula permanecemos meis duzia de dias até seguirmos em coluna por Binar até Biambi, onde permanecemos até ao final da nossa comissão.
Em Encheia ficou a secção do Furriel Neto, porque este estava com um ferido aquando do ataque pois o base do morteiro saltou e caiu-lhe no pé.
O Capitão da Companhia que nos rendeu queria que ficasse a secção do Nóbrega, mas como o
Nóbrega era bastante voluntarioso, um poço de energia, optei por deixar a secção do Neto, após
termos conversado os três sobre o assunto. O Alferes estava de férias motivo porque era eu que tinha de assumir o comando. O Sargento Vieira já lá não estava.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O DIA A DIA EM ENCHEIA


O 3º Grupo de Combate passou a ocupar o pequeno aquartelamento de Encheia a partir de 5 de Junho de 1967; O primeiro dia foi passado a contabilizar os prejuízos da viagem.
Como o Grupo de Combate era composto por três secções, praticamente as emboscadas eram processadas a uma secção ou a duas, pois tinha que ficar alguém no Aquartelamento.
O Aquartelamento era composto por um quadrado de cerca de 100 metros por 100, com duas entradas: uma do lado do Rio Mansoa, que distava cerca de 1000 metros, e outra na mesma direcção, no sentido da rua principal e única de Encheia, onde existiam meia dúzia de casas de adobe, das quais três eram comerciais, e que servia também de pista de aviação.
Dentro do arame farpado existia a casa do chefe de Posto, modelo idêntico em quase toda a Guiné, uma antiga casa que serviu de Posto Médico, e que era usada pelos quadros (Alferes
Jesus, Sargento Vieira, Furrieis Rogério, Nóbrega e Neto.
As entradas eram fechadas com cavalos de frisa.
Do lado do rio existia um armazém de cereais, desactivado e que era ocupado por alguns soldados. Do lado de Encheia existia uma caserna de adobes, que num dos lados dispunha de
enfermaria e de uma pequena arrecadação de géneros.
Junto ao edificio dos quadros, havia um pequeno abrigo de bidons e areia, onde se situava o sistema de transmissões.
Do lado de trás da casa dos quadros, existia um pequeno abrigo para a fossa do morteiro (secção do Neto); por trás da casa do chefe de Posto, situavam-se antigas instalações de galinhas porcos e outros animais, que estavam a ser utilizadas pelos soldados.
O arame farpado que cercava o aquartelamento passava muitio perto destas instalações.
Junto ao cavalo de frisa do lado de Encheia, existia um pequeno abrigo semi enterrado coberto por cibos e areia, (que segundo os Leões Negros, em 1970, desabou corcumido pelas formigas baga baga).
Do lado oeste existiam palhotas, onde habitavam alguns nativos que colaboravam com a tropa
bem como as familias dos cipaios.
Não existia luz eléctrica a qual só foi inaugurada em 10 de Junho. O gerador ficou instalado em
abrigo junto à porta de entrada do lado de Encheia.
As três casas comerciais pertenciam uma ao velho libanês Naim, outra a um nativo, de que não me lembro o nome, outra ao Fontaínhas (creio que da Casa Gouveia) que ardeu (fogo posto) na noite de 18 de Agosto daquele ano de 1967; recordo-me que precavendo qualquer tentativa de ataque, optámos por fazer uma psico (?) que fosse ao encontro dos desejos e necessidades da população; Assim, o Grupo de Combate que rendemos deixou uma pequena arrecadação com os medicamentos a granel sem qualquer ordem.
Eu, juntamente com o enfermeiro, optámos por montar os medicamentos que lá se encontravam mais os que levámos, numa espécie de farmácia ou posto de pronto socorros.
Fizémos constar que atenderiamos os elementos nativos que necessitassem de ajuda e assim nasceu um apoio tipo consulta. Diariamente atendiamos cerca de uma dezena de necessitados.
A uns, eram feridas resultantes de quedas ou de cortes, outros, eram dores abdominais, etc etc. Sem sermos médicos procurávamos deixar boa impressão aqueles que se nos dirigiam.
Foi assim que uma parturiente teve de ser evacuada a nosso pedido, por helicóptero tendo
tido um filho já no hospital em Bissau. Passados alguns dias, regressou com o filho nos braços juntamente com os fuzileiros. Perguntando-lhe como se chamava o minino, disse que se chamava Helicóptero.
Doutra vez, andava eu, aflito com uma infecção num dente, com a cara inchada e como não encontrasse melhor medicamento, pedi ao enfermeiro que me desse uma injecção de um determinado medicamento; ao que ele me respondeu, que nunca tinha dado uma injecção.
Nesse dia, todos os nativos que recorreram ao posto médico levaram injecção dadas pelo enfermeiro e à noite ele deu-me a desejada injecção que me curou o abcesso
Como procurámos não incomodar, normalmente uma das secções, se dirigia ou à Fonte recolher água ou ia à lenha para nosso uso (cozedura do pão e para a cozinha); de vez em quando montávamos uma emboscada, ou iamos adquirir à força gado para nossa alimentação (vacas, galinhas, porcos).
Cumpriamos o ciclo de emboscadas que nos mandavam efectuar em apoio a operações desencadeadas pelas Companhias de Binar Biambi e também esporadicamente de Bissorã.
Como não tivessemos um esquema montado de controlo das sentinelas, tinhamos sempre diariamente uns petiscos (normalmente rolas fritas, omeletes ou outros petiscos) que comiamos por volta da meia noite, Antes das duas da manhã, normalmente passávamos uma ronda, e por essa hora deitavamo-nos.
Certo dia, (na madrugada de 26 de Julho de 1967) bateram-nos à porta da casa que habitávamos; ensonado, esfregando os olhos, de cuecas, abro a porta e qual não é o meu espanto, deparo com um grupo infindável de militares armados, que eu mal conheci, e só quando o nosso Capitão pediu para falar com o Alferes eu prontamente fui ao quarto do Alferes Jesus, chamando-o, dizendo-lhe que o Capitão estava lá fora.
Acontece que a Companhia entrou por ali dentro e não vislumbrou qualquer sentinela. O Capitão passou um raspanete ao Alferes que só visto.
A partir daquela data, peguei nas minhas coisas e fui para o abrigo da minha secção, junto ao gerador da electricidade.
Muitas outras estórias há para contar de Encheia. Ficará lá mais para a frente.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O 3º GRUPO DE COMBATE RUMOU A ENCHEIA


No dia 4 de Junho de 1967, o 3º Grupo de Combate, saíu em viaturas com destino a João Landim, onde embarcámos numa LDM com destino a Encheia.
A LDM ia sobrecarregada, pois além do pessoal referente ao Grupo de Combate e suas respectivas bagagens, trasportávamos uma viatura Unimog, pelo que a Porta da LDM ia semi fechada. A viagem decorreu de noite, sem qualquer anormalidade, até cerca das 21 H3o a menos de mais hora de Encheia houve necessidade de encostar à margem pois a LDM estava a meter àgua pela porta levadiça.
Encontrava-me a dormitar no bojo da LDM, junto ao Unimog, deitado sobre dois bancos de madeira, quando senti que a àgua estava já com abundância dentro da LDM. Imediatamente
me coloquei em pé e verifiquei que a àgua já me dava pelos joelhos.
Gritei pelos fuzileiros a quem lhes comuniquei o ocorrido. Imediatamente colocaram a bomba a trabalhar, para se proceder ao escoamento da àgua. A mesma não respondeu de imediato pelo que se temeu o pior, Lá estivémos a acalmar o pessoal, espalhado pela LDM pois alguns já estavam a querer saltar para a àgua. Evitou-se o pior.
Os fuzileiros lá conseguiram colocar a bomba a trabalhara e a àgua lá se escuou.
.Entretanto as bagagens pessoais como vinham no porão ficaram inutilizadas danificadas e algumas perdidas definitivamente. Também material de guerra se perdeu definitivamente
No cais de Encheia aguardavam-nos o pessoal que restava do Pelotão que íamos render.
Nós a desembarcar e eles a meterem atarefadamente os seus haveres, precipitando-se numa fuga de Encheia pois nem sequer cohabitaram connosco até ao dia seguinte. Meterem-se na LDM e de madrugada lá rumaram a joão Landim.
O pequeno aquartelamento deEncheia não oferecia qualquer segurança; não havia electricidade
o arame farpado estava mesmo junto de pseudos abrigos . O velhos entretanto para espevitarem os piriquitos, fizeram algumas rajadas de G3 e claro os nossos soldados não responderam mas procuraram o abrigo mais próximo. Pela minha parte, formei um voo e entrei pelo abrigo ( o tal que mais tarde arriou sózinho) tendo batido com a cabeça no cibo da entrada tendo feito um enorme galo na testa.
Na manhã do dia seguinte partimos à descoberta de Encheia, medrosos, pois sabìamos que o pelotão rendido havia sofrido um ataque à cerca de mês e meio, que provocou a morte de 5 soldados e vários feridos. Por conseguinte Encheia passou a ser para nós um lugar mítico, mas que com o decorrer do tempo soubémos conquistar.
As primeiras semanas em Encheia foi de conhecimento geográfico, montámos algumas emboscadas, noturnas e diurnas, fizémos alguns patrulhamentos e como existia população civil em redor de Encheia procurámos estabelecer uma relação de convívio normal, sem tentar impor uma autoridade, que não a tinhamos mas que os nativos respeitavam .
A existência de um chefe de Posto e alguns cipaios, também permitiu que o nosso relacionamento fosse normal
De qcordo com uma táctica escolhida pelos graduados Alferes Jesus, Sargento Vieira, e furrieis
Rogério, Neto e Nóbrega, passámos a tratar o chefe de Posto com alguma deferência, mas sempre de pé atrás porque não nos merecia à partida toda a confiança, e simultâneamente, procurávamos informações junto de cipaios, do velho Naim, ou ainda do Danif quando lá se encontrava. (Estes dois ultimos eram comerciamtes locais- O Velho Libañês Naim, tinha negócio por conta própria; o Danif representava a Casa Gouveia.
Sobre Encheia voltaremos mais adiante com novas

P O E S I A NO CANO DA ARMA

Nem só com a arma se construia uma nova Guiné.
Quando o Pelotão se encontrava de segurança à Fonte, junto da bolanha grande na estrada para Binar, havia dias que a nostalgia invadia nossos corações e com a arma junto às nossas pernas, sentados junto de uma àrvore, escreviamoso que nos vinha à ideia. Havia quem aproveitasse para escrever uma pequena carta para a namorada, para a madrinha de guerra, para a esposa familiares ou amigos.
Num daqueles dias, em que tal aconteceu ser invadido por uma vontade extrema de escrever qualquer coisa, lembrei-me de dedicar ao nosso soldado uma pequena poesia, como agredecimento por tudo quanto, naqueleas horas ele dava de si a todos nós.
E o poema nasceu:


S E N T I N E L A OU P L A N T Ã O


Olhos fixos na noite escura,
Rostos cansados
Das vigílias!
Sentinelas das nossas vidas
Que vedes, que vigias?

Arma pendente,
rente ao capim,
Arame em volta,
Que me envolve a mim .

Montros, formas gigantes.
Palmares e imbondeiros.
Sentinela!
Estãs à alerta?
Vês esses olhos matreiros?

Horas pedidas,
Noites vencidas,
Ouvidos atentos,
Em tudo o que vem.
Sentinelas das nossas vidas
Vigias como nossa Mãe.

Vento agreste,
Chuva penetrante
Tudo suportas
Com resignação.
Sentinela!
A nossa vida
Na tua mão.

E quando inimigo
penetra na noite
Se aventurando
Com alguma descarga.
Tu gritas:
-SAÍDA !
Formas um salto,
Defendes tua e nossa vida.

A manhã vem alta
Dum azul resplandecente:
Tua vigia é necessária.
Tu respondes Presente.

E o rosto cansado
Das constantes vigílias
A que não podes dizer não,
Ainda és tu que velas por nós,
Altaneiro e firme no Posto,
SENTINELA OU PLANTÃO.